Em live promovida pelo TSE, personalidades femininas debatem a necessidade de mais mulheres na política
Iniciativa faz parte da série “Diálogos Democráticos”, que vai transmitir na internet bate-papo com especialistas sobre temas relativos às eleições
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) transmitiu, nesta sexta-feira (19), no YouTube e em todas as suas redes sociais, a primeira live da série “Diálogos Democráticos”. As convidadas Camila Pitanga, Djamila Ribeiro e Simone Tebet debateram por cerca de uma hora e meia, para uma audiência de 14,1 mil pessoas, o tema “Mais Mulheres na Política”.
Sob a mediação do presidente da Corte, ministro Luís Roberto Barroso, as personalidades femininas foram unânimes quanto à necessidade de ações mais efetivas para promoção da igualdade de gênero na política.
Camila Pitanga é atriz e embaixadora da ONU Mulheres; Djamila Ribeiro é escritora, filósofa e professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP); Simone Tebet é senadora (MDB) e a primeira mulher a presidir a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado Federal.
Ao abrir a live, o presidente do TSE agradeceu a participação das convidadas e destacou a importância delas na luta pela igualdade de direito das mulheres, tema que foi, inclusive, um dos pontos centrais do discurso de posse do ministro na presidência da Justiça Eleitoral.
Segundo o ministro Barroso, atrair mulheres idealistas e competentes para a política é uma importante demanda do país. “Mulheres são metade da população. E negras, pardas ou de origem indígena são metade das mulheres.
Precisamos aumentar a diversidade na vida pública brasileira. Somos um país multiétnico, multirracial, multicultural. Precisamos ter a consciência de que isso é um ativo, uma virtude, um privilégio que a história nos deu. Atrair mulheres para a política e para postos-chave na vida nacional”, disse ele, lembrando que um dos objetivos de sua gestão é o empoderamento feminino.
Luta
Na abertura da live, Camila Pitanga afirmou que era uma honra debater um ponto nevrálgico, não apenas na política brasileira, mas no mundo. “Tive a chance de aprender com a minha família a importância da vocação política. Sempre tive voz em casa. São séculos de disparidade. Ouvi o seu discurso de posse ministro, e fiquei muito feliz, pois temos à frente do TSE um aliado nessa questão. A mulher faz a diferença na política. Ela traz uma possibilidade de mudar o modus operandi quando ocupa espaços decisórios”, afirmou.
Djamila Ribeiro iniciou sua fala lembrando que as mulheres negras são a base da pirâmide social e que, durante a vida, passam por vários enfrentamentos para ter direito a oportunidades. “Nosso legado não é apenas de dor. Nosso legado é também de muita luta e resistência. Precisamos falar de mulheres que abriram caminho para fazermos os enfrentamentos necessários”, disse.
Durante a live, Djamila citou uma fala de Simone de Beauvoir: “Não se nasce mulher, torna-se mulher”, para destacar que, historicamente, as mulheres são desencorajadas a participar dos espaços políticos. “A questão do racismo e do sexismo estruturais impede que as mulheres, principalmente as negras, tenham espaço. As mulheres sempre lutaram, principalmente as negras e periféricas, por melhores condições e por seus direitos. É preciso reverenciarmos essa luta. As mulheres negras são apenas 2% do Congresso Nacional”, salientou a escritora.
Para Simone Tebet, o tema do debate não é uma pauta só das mulheres, “é uma pauta da sociedade, que quer uma nação mais democrática e mais justa”. “A participação das mulheres na política é tão pífia no Brasil, isso em pleno século 21. O grande problema é que ainda não cumprimos a Constituição Federal no que ela determina sobre a igualdade de homens e mulheres”, ressaltou.
De acordo com a senadora, o olhar da mulher na política é diferente, porque a razão da mulher para entrar na política também é diferente. “A mulher percebeu que não bastava votar. Ela precisava ser votada. Essa história de que mulher não vota em mulher é um discurso machista. O que o Legislativo não teve coragem para garantir em relação ao direito das mulheres na política, o Poder Judiciário teve, sempre procurando garantir o espaço feminino. E o TSE tem tido um papel decisivo nessa questão”, disse.
Educação
Sobre educação, um dos assuntos debatidos na live, Djamila enfatizou que ela é fundamental, pois quebra ciclos de exclusão. Para a autora, as cotas foram essenciais para diminuir abismos em relação a oportunidades. “Se temos uma educação que mostra apenas que os grandes feitos são feitos por homens, sem mostrar a perspectiva das mulheres, fica impossível que meninas se reconheçam”, disse.
Camila Pitanga concordou com Djamila, ressaltando que a educação é instrumento de poder. “Nossas ações, aquilo que fazemos diariamente, também são política. Temos que estar atentos a isso”, concluiu.
Finalizando sua participação na live, Simone Tebet afirmou que lugar de mulher é onde ela quiser, dentro e fora de casa. “Nesse momento, mais do que nunca, precisamos muito das mulheres em espaços políticos e decisórios”, disse a senadora, lembrando de propostas que tramitam no Senado Federal para garantir uma maior participação das mulheres na política.
Ao encerrar sua participação, Djamila destacou que, ao se debater o tema, é preciso ter um olhar mais interseccional, e leu trechos do discurso da abolicionista, pioneira na luta pelos direitos civis dos negros e das mulheres, Sojourner Truth, feito nos Estados Unidos, em 1851.
E não sou uma mulher?
“Aqueles homens ali dizem que as mulheres precisam de ajuda para subir em carruagens, e devem ser carregadas para atravessar valas, e que merecem o melhor lugar onde quer que estejam. Ninguém jamais me ajudou a subir em carruagens, ou a saltar sobre poças de lama, e nunca me ofereceram melhor lugar algum! E não sou uma mulher? Olhem para mim? Olhem para meus braços! Eu arei e plantei, e juntei a colheita nos celeiros, e homem algum poderia estar à minha frente. E não sou uma mulher? Eu poderia trabalhar tanto e comer tanto quanto qualquer homem – desde que eu tivesse oportunidade para isso – e suportar o açoite também! E não sou uma mulher? Eu pari 3 treze filhos e vi a maioria deles ser vendida para a escravidão, e quando eu clamei com a minha dor de mãe, ninguém a não ser Jesus me ouviu! E não sou uma mulher?”.
Concluindo o debate, o ministro Barroso agradeceu a participação das convidadas. “Estou deleitado em participar desse debate, mediando, inclusive, o mínimo possível. Agradeço às participantes pelo brilhantismo de suas falas e pela profundidade das reflexões. Tivemos aqui a oportunidade de discutir sobre a luta feminina, a importância da ascensão social, da educação, da igualdade de direitos, e sobre o nosso esforço para trazer mais mulheres ao poder. A vida é plural, e a pluralidade nos enriquece. Precisamos de avanços sociais e conquistar mais espaços para as mulheres, incluindo mulheres negras”, afirmou o presidente do TSE.
Participa Mulher
A live também faz parte das ações do projeto Participa Mulher, de incentivo ao protagonismo feminino na política. O portal dessa campanha permanente da Justiça Eleitoral reúne informações sobre a história do voto feminino, das primeiras mulheres a conquistar espaços de relevância no meio político e notícias que abordam a atualidade dessa participação.
Próxima live
A próxima live da série “Diálogos Democráticos” será no dia 29 de junho, às 18h30, sobre o tema “Desinformação”. Os debatedores convidados são: Cristina Tardáguila, da Agência Lupa; o biólogo Atila Iamarino; e Felipe Rigoni, deputado Federal (PSB).
A live de hoje encontra-se disponível no canal da Justiça Eleitoral no YouTube.
MM/LG, DM