O valor, os avanços e as perspectivas para as mulheres na economia, no trabalho, nas artes, na área jurídica e na democracia como um todo: essa foi a temática da roda de conversa realizada na manhã desta terça-feira (11), no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), como parte da programação do encontro “Mulher, presente”, promovido em celebração ao Dia Internacional da Mulher (8 de março). Personalidades femininas debateram o assunto e também falaram sobre as desigualdades que continuam a enfrentar no país e no mundo. 

Aberta pela presidente do TSE, ministra Cármen Lúcia, a roda de conversa contou com a participação da presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza, Luiza Trajano, a produtora cinematográfica Paula Lavigne, a cantora Marisa Monte e a desembargadora do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS) Íris Helena Medeiros. O encontro tem como finalidade promover uma série de reflexões sobre a mulher na sociedade e na democracia brasileira, conectando lideranças e ouvindo vozes femininas. 

Em sua fala, a ministra Cármen Lúcia destacou o “gosto” de ter no TSE “mulheres que nos representam no dia a dia, sobre as quais falamos nas nossas conversas, nos nossos votos e nos nossos discursos”. “Para nós, brasileiras, é da principal importância ter mulheres como vocês quatro podendo ser um pouco o que nós gostaríamos de fazer ecoar”, afirmou.  

Paula Lavigne salientou o fato de as mulheres serem atuantes e exercerem o protagonismo no campo da economia criativa, em razão de suas próprias qualidades intrínsecas, bem como na indústria criativa. “A gente acabou de ganhar um Oscar. Eu acho que o filme tomou muito o mundo por causa das mulheres”, ressaltou a produtora cinematográfica, ao citar a história de Eunice Paiva e as atuações de Fernanda Torres e Fernanda Montenegro, que deram vida à ativista no filme “Ainda estou aqui”, de Walter Salles, premiado no Oscar. 

Economia e mercado de trabalho 

Já a presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza, Luiza Trajano, destacou a crescente participação das mulheres na economia e nos postos de trabalho, valorizando a presença da mulher no mercado de trabalho. “O pior é a desigualdade salarial, porque essa não é uma questão de mentalidade: é uma questão de caneta. Nenhum pai ou nenhum avô nesta sala iria querer que uma filha ganhasse menos porque ela é mulher. Uma mulher pode ser o que ela quiser”, disse. 

No evento, a empresária também exibiu um vídeo sobre um caso de feminicídio ocorrido na rede Magazine Luiza. Segundo ela, após o caso, foi criado o Canal da Mulher, um espaço interno em que colaboradoras podem denunciar casos de violência doméstica, seja como vítimas ou ao tomarem conhecimento de situações vividas por colegas de trabalho. 

A mulher e as artes 

A próxima a se expressar na roda de conversa foi Marisa Monte, que falou sobre o tema “A mulher e as artes”. A cantora, que trouxe um relato da sua história na música, contou que, há 35 anos nessa trajetória, tem acompanhado e refletido sobre a evolução da presença feminina nas artes e, em especial, no ramo musical. “Eu vivi na pele a luta por espaço, pela amplificação da minha voz em um meio tão desigual quanto a própria sociedade. Percorri um caminho que me ensinou sobre existência, independência e sobre a importância de ocupar espaços. Tive que romper barreiras, enfrentar questionamentos sobre a minha capacidade de conduzir a minha própria carreira, compor as minhas músicas, produzir álbuns e liderar meus projetos”, disse. 

Marisa Monte frisou ainda que, em um mercado historicamente formado por homens, fez escolhas que reafirmaram a sua autonomia. Ela contou que criou um selo independente para produzir a sua própria música e buscou manter o controle artístico e patrimonial da sua obra. Para a cantora, isso não foi apenas um desejo pessoal, mas uma necessidade para garantir que, além da sua voz e da sua imagem, seu coração e sua mente pudessem descansar da maneira escolhida por ela. 

Área jurídica 

Ao pontuar as desigualdades contra as mulheres, em especial na área jurídica, a desembargadora do TJ-RS Íris Helena Medeiros destacou: “Não se está a afirmar que a definição dos ocupantes dos cargos de confiança, de liderança ocorra meramente com base em um critério exclusivo de gênero, mas que as alternativas de escolha sejam efetivamente igualitárias, na medida em que é indiscutível que o preparo e a competência não são atributos exclusivos dos homens”. 

De acordo com Íris Helena, é importante ter os homens ao lado das mulheres nessa luta, não em busca de nenhuma guerra. “[A mulher] quer apenas ter o seu espaço, o direito de apresentar sua qualificação em igualdade de condições para concorrer”, finalizou.  

Direito x violência 

A roda de conversa foi encerrada pela ministra Cármen Lúcia, que ressaltou a importância de se garantir que todas as mulheres tenham seus direitos assegurados no dia a dia. Ela frisou que "sempre que [...] há violência é porque o direito não entrou, e nós queremos uma sociedade na qual o direito tenha lugar na mesa, na cama, nas moradas e em todos os lugares para que as mulheres e os homens sejam verdadeiramente iguais nos seus direitos e na sua possibilidade de criar as condições para serem felizes”, concluiu a presidente do TSE. 

“Mulher, presente” 

O encontro “Mulher, presente” foi aberto pela ministra Cármen Lúcia. A abertura do evento reuniu lideranças e representantes dos Três Poderes, além de vozes femininas da sociedade civil, para celebrar as conquistas das mulheres e discutir os desafios ainda enfrentados na busca por igualdade de direitos.   

Concluída a abertura, ocorreu uma mesa temática sobre “Presença da mulher na política”, com a senadora Zenaide Maia (PSD-RN), a deputada federal Soraya Santos (PL-RJ) e a juíza Renata Gil, conselheira do CNJ, que mediou a iniciativa.   

No período da tarde, a empresária e publicitária Luana Génot falou sobre o tema “Mulher, desafios e possibilidades”. Luana é diretora-executiva e fundadora do Instituto Identidades do Brasil, além de articulista e escritora.  

Os visitantes poderão ainda prestigiar as exposições “Democracia bordada” e “O voto no Brasil”, em cartaz no foyer do TSE.  

Confira a programação do encontro.   

LB/LC, DB 

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