Presidente do TSE afirma que presença da mulher é essencial para democracia

No evento ‘Mulher, Presente”, em celebração ao Dia Internacional da Mulher (8 de março), ministra Cármen Lúcia lembrou que 20 milhões de mulheres sofreram algum tipo de violência em 2024

Foto: Alejandro Zambrana/Secom/TSE - Evento "Mulher, Presente" - 11.03.2025

Para promover reflexões sobre os direitos e a presença feminina na sociedade e na democracia brasileira, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) realiza ao longo desta terça-feira (11) o evento “Mulher, Presente”, em homenagem ao Dia Internacional da Mulher – comemorado em 8 de março. A iniciativa reuniu lideranças e representantes dos Três Poderes, além de vozes femininas da sociedade civil, para celebrar as conquistas das mulheres e discutir os desafios ainda enfrentados na busca por igualdade de direitos.  

Na abertura do encontro, que aconteceu no Auditório I do edifício-sede do TSE, em Brasília, a presidente do TSE, ministra Cármen Lúcia, afirmou que o encontro “Mulher, Presente” tem como objetivo refletir sobre “a condição das pessoas humanas, entre as quais as mulheres estão incluídas”. “Mas é preciso que se repita isso, porque parece que o mundo ainda não acredita que, entre os seres humanos, estamos nós, as humanas”.  

Mulheres importam 

E foi com esse mote que a ministra destacou que a mulher importa para a democracia brasileira, mesmo que o dia 8 de março – Dia Internacional da Mulher - não tenha sido um dia para se comemorar, pois, informou ela, 20 milhões de mulheres sofreram alguma forma de violência em 2024. 

“Isso é devastador em termos de direito, não há democracia sem a presença de todos os seres humanos. Nós, mulheres, somos mais da metade da população brasileira, nós somos mais da metade do eleitorado brasileiro e poderíamos decidir eleições. Parece que as instituições ainda não se deram conta de que a mulher importa, importa para a sua existência, importa para a existência dos outros, importa para que a gente tenha uma democracia verdadeira”, disse a magistrada. 

Foto: Alejandro Zambrana/Secom/TSE - Evento "Mulher, Presente" - 11.03.2025

Para além do papel da pessoa que cuida do outro, a ministra Cármen Lúcia disse que a mulher quer curtir a vida e não apenas ser guerreira. “Queremos ser mulheres que têm as alegrias dessa grande aventura que é viver. Porém, queremos viver com dignidade e com direito”, completou.  

Programa Nacional de Incentivo à Participação Feminina na Justiça Eleitoral 

Durante a abertura do encontro “Mulher, Presente”, a presidente do TSE anunciou a criação do Programa Nacional de Incentivo à Participação Feminina na Justiça Eleitoral e à Promoção de Paridade de Gênero nos Tribunais Regionais Eleitorais, por meio da Portaria TSE n º 105, publicada no Diário da Justiça Eletrônico, nesta terça-feira (11).  

O programa tem os seguintes objetivos: 

  • Equilíbrio de Oportunidades: promover um ambiente onde homens e mulheres tenham iguais oportunidades em todas as unidades administrativas e judiciais da Justiça Eleitoral; 
  • Valorização da Mulher: propor políticas institucionais que valorizem a presença feminina em cargos de liderança e assessoramento; 
  • Aumento da Representatividade: incentivar a participação de mulheres em eventos e como palestrantes, além de assegurar sua presença nas Comissões Organizadoras de Concursos e Processos Seletivos; 
  • Monitoramento Contínuo: criar mecanismos para avaliar o progresso do programa, assegurando que as metas estabelecidas sejam cumpridas; 

O programa também orienta os Tribunais de Justiça e os TREs a garantirem a paridade de gênero no preenchimento de vagas de magistrados, promovendo um processo de seleção que alterne as indicações entre homens e mulheres nas listas tríplices de advogados e advogadas.  

“É importante garantir a paridade de gênero nos concursos públicos para os cargos da Justiça Eleitoral, também a composição por mulheres e homens nas bancas, para que os cargos em comissão sejam com paridade de gênero, para que isso seja indicado em todos os tribunais regionais eleitorais. Isso considerando que a Justiça Eleitoral é o único ramo do Poder Judiciário que não cumpre, até pelas suas peculiaridades, as normas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ)”, explicou a magistrada. 

Além das diretrizes sobre magistrados, o TSE e os TREs devem observar a paridade de gênero em diversas áreas, incluindo: cargos de direção e comissões e eventos e contratação de estagiários. Outro destaque do programa é o incentivo à inclusão de mulheres vítimas de violência doméstica nas contratações de serviços terceirizados, em conformidade com as legislações vigentes.

A ministra Cármen Lúcia comunicou que será apresentada uma proposta de resolução para que, na formação das listas tríplices para o preenchimento de vagas de juízes nos TREs, seja realmente observada a possibilidade de equidade de gênero.  

Covid-19 

No evento desta terça, a presidente do Tribunal lembrou os cinco anos da data (11 de março de 2020) na qual a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou a pandemia da covid-19. “Momento em que o mundo se viu diante de um enorme desafio de sofrimentos, de situações inusitadas. Essa experiência que a humanidade teve de forma inédita, na era contemporânea, há de nos ter deixado lições, cuidados e responsabilidades uns com os outros”, acrescentou a ministra. 

Participação da mulher nos espaços de poder 

O combate à desigualdade de gênero foi apontado pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, como imprescindível para garantir a participação das mulheres em mais espaços de poder, tanto no Judiciário quanto em toda a sociedade. Ele lembrou que as mulheres são cerca de 40% da magistratura, mas detém pouco mais de 20% de presença nos tribunais.  

Foto: Alejandro Zambrana/Secom/TSE - Evento "Mulher, Presente" - 11.03.2025

O magistrado destacou a evolução dos direitos femininos ao longo do tempo no Brasil, mencionando os avanços, como os assegurados pela Constituição Federal de 1988, o combate à violência doméstica — a exemplo da Lei Maria da Penha —, e a ampliação da representatividade feminina nas eleições. Barroso reforçou, no entanto, que ainda há muito a avançar na busca pela igualdade, especialmente nos tribunais superiores. 

“Esses são alguns avanços importantes que nós temos conseguido ao longo do tempo com a atuação da Justiça. A presença feminina em todos os tribunais é, primeiro, uma questão de equidade de gênero. Não ter a presença feminina significa ter uma carência de uma visão feminina em um mundo que deve ter equilíbrio entre homens e mulheres, além do incremento da representatividade democrática. As pessoas precisam se sentir representadas”, afirmou.   

De acordo com ministro, é preciso, portanto, enfrentar o preconceito, a discriminação, o machismo estrutural brasileiro na linguagem, nas atitudes de uma maneira geral. "E é por isso que estamos aqui empenhados. Precisamos avançar na agenda dos direitos sexuais e reprodutivos da mulher, agenda que é objeto de muito preconceito, de muita ignorância. Tivemos muitos avanços, mas é uma revolução ainda incompleta e o nosso papel é ajudar a todos a empurrar a história na direção certa”, finalizou o presidente do STF. 

Promoção da igualdade de oportunidades 

“Nós não apenas celebramos as conquistas, mas também renovamos o nosso compromisso com a promoção da igualdade de oportunidades. Reconhecemos que, apesar de avanços, ainda existem obstáculos a serem superados, como a disparidade salarial, a sub-representação em cargos de liderança e o assédio moral e sexual, que são realidades que exigem ações continuadas. É fundamental que cada um de nós, dentro da sua esfera de influência, trabalhe para criar um ambiente de trabalho mais justo”, declarou a ministra do Tribunal Superior do Trabalho (TST), Maria Cristina Peduzzi, durante a mesa de abertura do evento. 

Foto: Alejandro Zambrana/Secom/TSE - Evento "Mulher, Presente" - 11.03.2025

Nesse sentido, a magistrada mencionou a Resolução CNJ nº 255, de 2018, que estabeleceu, prioritariamente, a política nacional de incentivo à participação institucional feminina no Poder Judiciário, com o intuito justamente de combater a discriminação e ampliar a representatividade das mulheres em todos os níveis. 

Além da resolução, a ministra Maria Cristina destacou o protocolo aprovado pelo CNJ para julgamento com perspectiva de gênero, que busca garantir que o sistema de Justiça seja capaz de identificar e combater preconceitos e estereótipos de gênero que possam influenciar nas decisões judiciais. 

Mesa de abertura 

Além da ministra Cármen Lúcia, a mesa de abertura do evento “Mulher, Presente” foi integrada pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ministro Luís Roberto Barroso; pelo vice-presidente do TSE, ministro Nunes Marques, pelos ministros do STF e TSE, Gilmar Mendes, Cristiano Zanin, e pelo ministro do STF Alexandre de Moraes, antecessor da ministra Cármen Lúcia na Presidência do Tribunal, além de representantes do Executivo e do Legislativo, da sociedade civil e convidadas especiais. 

Logo no início do encontro, foi transmitido o vídeo, produzido pela Secretaria de Comunicação e Multimídia do TSE, em homenagem ao Dia Internacional da Mulher.

 

Programação 

Concluída a abertura, ocorreu uma mesa temática sobre “Presença da Mulher na Política”, com a senadora Zenaide Maia (PSD-RN), a deputada federal Soraya Santos (PL-RJ) e a juíza Renata Gil, conselheira do CNJ, que mediou a iniciativa.  

Em seguida, houve uma roda de conversa, conduzida pela ministra Cármen Lúcia, com a participação de quatro mulheres de destaque em seu ramo de atuação: a empresária Luiza Trajano, a produtora cinematógráfica Paula Lavigne, a cantora Marisa Monte e a desembargadora Íris Helena Medeiros. Elas apresentaram os desafios, as dificuldades e os avanços, em sua respectiva área de atividade, na busca pela eliminação da desigualdade de gênero. 

No período da tarde, a partir das 16h30, a empresária e publicitária Luana Génot falará sobre o tema “Mulher, desafios e possibilidades”. Luana é diretora-executiva e fundadora do Instituto Identidades do Brasil, além de articulista e escritora. 

Os visitantes poderão ainda prestigiar as exposições “Democracia bordada” e “O voto no Brasil”, em cartaz no foyer do TSE. 

Confira a programação do encontro 

AN, RL/EM, MM

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