Vice-presidente do TSE afirma que pessoas não devem ser usadas por máquinas e algoritmos

Ministra Cármen Lúcia conduziu os trabalhos do primeiro painel de seminário internacional nesta terça-feira (21)

Foto: Alejandro Zambrana/Secom/TSE – Primeiro Painel Seminário Internacional Inteligência Artifi...

Os participantes do painel “Como as democracias morrem”, o primeiro do “Seminário Internacional – Inteligência Artificial, Democracia e Eleições”, ressaltaram as estratégias utilizadas por indivíduos e grupos organizados para corroer a democracia, com a propagação de desinformação e fake news contra as instituições eleitorais dos países. De acordo com os palestrantes, o objetivo dessa forma de atuação é criar desconfiança na população e desacreditar a legitimidade do sistema de votação e das autoridades eleitas.

Aberto pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nesta terça-feira (21), o evento, que prossegue até esta quarta (22), pode ser acompanhado ao vivo pelo canal do TSE no YouTube.

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O painel foi presidido pela ministra Cármen Lúcia e teve como palestrantes Marco Ruediger, sociólogo e diretor da Escola de Comunicação da FGV; Kevin Casas-Zamora, secretário-geral do Idea Internacional; e Lilian Cintra de Melo, secretária de Direitos Digitais do Ministério da Justiça e Segurança Pública.

Como mediadora do painel, a vice-presidente do Tribunal, ministra Cármen Lúcia, afirmou que o tema do seminário merece constante e total atenção dos especialistas e da Justiça Eleitoral, principalmente neste ano em que haverá eleições em mais de 5,5 mil municípios do país. “Devemos ser seres livres usando máquinas, e não nos deixando usar por máquinas, atrás das quais, com os seus algoritmos, há alguém que ganha”, disse a ministra.

Cármen Lúcia afirmou que há uma terra digital, supranacional, que abrange o planeta, e que “há [sempre] alguém, perfeitamente identificável, que é dono dessas plataformas, que atua nos algoritmos, fazendo com que esses ajam sobre a inteligência natural das pessoas, fazendo com que sejam mutiladas as liberdades e, desta forma, corroídas as democracias”.

A ministra acrescentou, ainda, que o seminário se propõe a “discutir rigorosamente em que consistem os mecanismos possíveis para que as democracias continuem a prevalecer em todo o mundo, porque sem elas não há liberdade, sem liberdade a humanidade fica diminuída”.

Retrocesso

O secretário-geral do Instituto Internacional para a Democracia e a Assistência Eleitoral (Idea Internacional), Kevin Casas-Zamora, fez um alerta importante. Segundo ele, pelo sexto ano consecutivo, o Idea observou uma piora nas condições democráticas dos países analisados pelo instituto.

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“Metade dos países cobertos pelo nosso relatório tiveram piora na democracia em ao menos um elemento na última década. A propagação da desinformação e o mau uso da tecnologia são fatores importantes nesse cenário de ameaça e ataques antidemocráticos. O que notamos é que existe uma demanda por desinformação, tudo isso motivado em função dos níveis de confiança muito baixos da população nas instituições e no Estado Democrático”, pontuou.

Ameaças

Lilian Cintra de Melo, secretária de Direitos Digitais do Ministério da Justiça e Segurança Pública, afirmou que o momento atual é de convivência com desafios e ameaças constantes à democracia. Para ela, a premissa hoje é sobre o que precisa ser feito para mitigar esse tipo de risco.

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“Temos que identificar quais são os problemas e endereçá-los de forma incisiva. O primeiro deles é a polarização visceral e antipluralista, voltada para a deslegitimação de opositores e das próprias instituições brasileiras. E, aqui, o TSE tem sido pioneiro na discussão dentro do ambiente eleitoral. Observamos que há um esforço contínuo, vindo de diferentes atores, para capturar e erodir as instituições brasileiras a partir de objetivos anticonstitucionais”, disse ela.

Luta

O sociólogo e diretor da Escola de Comunicação da FGV, Marco Ruediger, lembrou que as democracias estão sob constante ataque. Ele elogiou a realização do seminário internacional, que classificou como “propício e oportuno”. Ruediger afirmou que as democracias se reafirmam, a cada momento, na luta para sobreviver sob a égide de ameaças muito graves.

Foto: Alejandro Zambrana/Secom/TSE – Primeiro Painel Seminário Internacional Inteligência Artifi...

“Hoje temos uma diferença importante. Há 20 anos, a expectativa que se tinha era positiva, com a utilização das redes sociais para uma concertação, com o direcionamento para pautas que seriam importantes e consensuais na sociedade. Infelizmente isso tomou outro rumo. Ainda que essa possibilidade exista e precise ser explorada ao máximo, ela hoje abre espaço também para a construção de narrativas disruptivas e antidemocráticas”, declarou.

O evento

O “Seminário Internacional – Inteligência Artificial, Democracia e Eleições” é promovido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e pela Escola de Comunicação, Mídia e Informação da Fundação Getulio Vargas (FGV Comunicação). Aberto ao público e gratuito, o encontro acontece no Auditório I do TSE, em Brasília.

Até quarta-feira (22), especialistas nacionais e internacionais, autoridades e representantes, no Brasil, das plataformas digitais WhatsApp, TikTok e Google, discutirão diretrizes que orientem o uso da inteligência artificial nas eleições e estratégias para o enfrentamento do fenômeno da desinformação e das fake news na área eleitoral.

Painéis

O seminário é dividido em quatro painéis temáticos:

  1. “Como as democracias sobrevivem”
  2. “Algoritmo, polarização e desafios em contextos eleitorais”
  3. “Desinformação e o uso de IA nas eleições”
  4. “Integridade do processo eleitoral no mundo digital”

Nesta terça-feira (21), acontecem os três primeiros painéis. A ministra Edilene Lôbo preside o segundo painel, com os palestrantes Dragos Tudorache, membro do parlamento da União Europeia e correlator do IA Act; João Brant, secretário de políticas digitais da Secretaria de Comunicação da Presidência da República; Beatriz Saab, pesquisadora do Democracy Reporting International (DRI); e Daniela Silva, chefe de políticas públicas do WhatsApp no Brasil.

A jornalista e colaboradora da FGV Comunicação Rio Leila Sterenberg mediará o terceiro painel, que terá a participação de Renate Nikolay, diretora-geral adjunta da DG Connect da Comissão Europeia; Albertina Piterbarg, especialista em eleições da Unesco; Matías Di Santi, diretor de jornalismo do Chequeado (Argentina); e Fernando Gallo, diretor de políticas públicas do TikTok no Brasil.

Na quarta-feira (22), o ministro Ramos Tavares mediará o quarto painel, que contará com os seguintes participantes: Jens Zimmermann, membro do Parlamento Federal Alemão; Natália Leal, CEO da Lupa; Luca Belli, coordenador do Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV; e Taís Tesser, gerente de contencioso da Google Brasil.

Término

Após o último painel, o presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes, fará a conferência de encerramento do seminário. Ele falará sobre os impactos da inteligência artificial nas eleições e sobre os desafios para a democracia no século XXI.

JM/EM, DB

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