“Voz da urna”, cantora com deficiência visual fala sobre inclusão de PcDs no processo eleitoral
No XXI Encontro de Dirigentes das Escolas Judiciárias Eleitorais, Sara Bentes participou de painel sobre combate ao capacitismo
O segundo dia do XXI Encontro Nacional do Colégio de Dirigentes das Escolas Judiciárias Eleitorais (Codeje), realizado nesta sexta-feira (5), tratou, entre outros temas, da participação da Justiça Eleitoral na luta contra o capacitismo, caracterizado por atos que subestimam a capacidade de pessoas com deficiência.
Confira a transmissão do evento.
A cantora Sara Bentes, dona da voz sintetizada "Letícia", que será usada nas urnas eletrônicas a partir das Eleições Municipais 2024, foi uma das participantes. O evento aconteceu ontem e hoje, na sede do Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR), em Curitiba.
A artista, que nasceu com deficiência visual, integrou o painel “O papel das EJEs [Escolas Judiciárias Eleitorais] no combate ao capacitismo”. Na ocasião, além de contar como se tornou a nova voz da urna eletrônica, que dará instruções para pessoas cegas e com baixa visão, ela também reforçou a importância da inclusão de PcDs no processo eleitoral como um todo. “Quando colocamos a voz de uma pessoa com deficiência para auxiliar outras pessoas com deficiência, estamos dizendo para a sociedade que a gente pode muito mais do que imaginamos e do que as pessoas esperam da gente”, relatou.
O secretário de Comunicação do TRE de Goiás (TRE-GO), Brazil Nunes, que tem deficiência motora, falou sobre as conquistas das PcDs, apesar dos preconceitos ainda enraizados na sociedade. “Quando a Justiça Eleitoral mostra que o mesário com deficiência é importante, está indicando que ele é profissional qualificado e pode ser um representante, um candidato e, sobretudo, alguém com cidadania”.
O presidente do TRE-PR, desembargador Sigurd Roberto Bengtsson, conduziu o encerramento do painel, que foi mediado pela coordenadora de Comunicação Social do regional, Melissa Medroni. Ele ressaltou a necessidade de atuação em prol da visibilidade de pessoas com deficiência e apresentou as campanhas do TRE do Paraná relacionadas à inclusão.
Como a voz de Sara parou na urna?
Atendendo a uma sugestão feita pela Organização Nacional de Cegos do Brasil (ONCB), a Seção de Voto Informatizado do Tribunal Superior Eleitoral (Sevin/TSE) modificou toda a tecnologia por trás do sintetizador anterior, instalado nos equipamentos em 2020. O objetivo foi tornar mais natural e inteligível a voz que dará instruções básicas para o início da votação e informará o cargo em votação no momento, os nomes e os números das candidaturas escolhidas.
O processo de integração do novo recurso foi realizado por meio do RHVoice, um software livre, criado por programadores cegos, que converte o texto em fala e funciona como uma espécie de “banco de vozes” público. Na versão brasileira do recurso, é usada a voz sintetizada "Letícia", que pertence à cantora Sara Bentes.
Inclusão e acessibilidade
A garantia da plena inclusão das eleitoras e dos eleitores com deficiência no processo de escolha de representantes é uma das missões da Justiça Eleitoral. Além da voz "Letícia" e do inconfundível “pilili”, alerta sonoro emitido pela urna que indica o término da votação, o equipamento conta com outros recursos de acessibilidade, como:
- sistema Braille e identificação da tecla “5” do teclado da urna, que é similar ao do telefone;
- apresentação de um intérprete de Língua Brasileira de Sinais (Libras) na tela para informar às eleitoras e aos eleitores com deficiência auditiva os cargos que estão em votação no momento.
BA/LC, DB, com informações do Tribunal Regional Eleitoral do Paraná.