TSE promove Conversa de Mulher no Dia Internacional dos Direitos Humanos

Dentro do evento “Direitos: Humanas – Voz (da mulher) pela Democracia”, Tribunal  acolheu as falas daquelas que lutam por um mundo mais justo, fraterno e igualitário

Foto: Alejandro Zambrana/Secom/TSE - Encontro “Direitos: Humanas – Voz (da mulher) pela Democrac...

Como parte do evento “Direitos: Humanas– Voz (da mulher) pela Democracia”, a atividade Conversa de Mulher, organizada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ocorreu na forma de três painéis, nesta terça-feira (10), para celebrar o Dia Internacional dos Direitos Humanos. O dia lembra a data da proclamada da Declaração Universal dos Direitos Humanos pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1948.  

A atividade foi dividida nos painéis "Força da Mulher", "Fé na Mulher" e "Perfume de Mulher", que se transformaram em espaços de acolhimento e escuta de histórias contadas por vozes femininas. A proposta foi ouvir a voz daquelas que lutam diariamente por um mundo mais justo, fraterno e igualitário.  

Foto: Alejandro Zambrana/Secom/TSE - Encontro “Direitos: Humanas – Voz (da mulher) pela Democrac...

O evento, ocorrido na sede do TSE, em Brasília (DF), teve a participação de magistradas, empresárias, artistas, bordadeiras, pesquisadoras, professoras, economistas, jornalistas, advogadas, mães, médicas, escritoras, lideranças indígenas e acadêmicas. 

Força da Mulher 

As histórias de Terezinha, Tia Tatá e Ana Paula foram alguns dos relatos da mesa de conversa “Força da Mulher”, mediada pela secretária-geral do TSE, Andréa Pachá, e aconteceu no Auditório I do Tribunal. A desembargadora lembrou que o aumento da violência e dos índices de feminicídio precisa ser enfrentado. “Essa pauta não pode nos sequestrar e nos aprisionar. Precisamos ter a vida como valor e direito fundamental”, disse. “A democracia real só existe se a equidade deixar de ser uma proposta formal e for uma vida efetiva, uma realidade que nos transforma”, afirmou Andréa. 

A piauiense Terezinha Maria de Jesus viu o filho, Eduardo Ferreira, de dez anos ser assassinado a tiros por policiais militares, na porta de casa, no Complexo do Alemão, comunidade do Rio de Janeiro. O caso chegou a ser encerrado por legítima defesa e ganhou apoio da Anistia Internacional. “Legítima defesa de quê? O meu filho era uma criança, ele estava com o celular na mão, estudava o dia inteiro em um colégio com horário integral.”, relatou. “Ele sabia ler e escrever. O meu filho não era bandido”, disse. 

Foto: Alejandro Zambrana/Secom/TSE - Encontro “Direitos: Humanas – Voz (da mulher) pela Democrac...

Apesar da perda, Terezinha decidiu lutar contra a violência policial. Por oito anos, ela reuniu provas. Entre elas, 43 vídeos que mostravam a ação policial que resultou na morte de Eduardo. Com o apoio do ator e escritor Clayton Nascimento, contou sua história de dor e perda a uma plateia de mais de mil pessoas. “Antes de a cortina fechar, o advogado João Pedro Accioly pegou na minha mão e disse: a partir de agora, eu sou o seu advogado”, relatou. O caso foi reaberto em 2023 e aguarda julgamento. “Eu não peço justiça apenas para o meu Eduardo, mas para todos os Eduardos e para todas as mães que precisam”, disse.  

Foi depois de se recuperar de um câncer no colo do útero que Maria da Conceição Ferreira, a Tia Tatá, decidiu transformar a casa em que morava em uma creche. No início, o projeto era voltado às filhas e aos filhos de mães solo que trabalhavam no antigo lixão da Estrutural, na periferia de Brasília (DF). “Eu nunca disse 'não' para nenhuma criança”, afirma. 

Foto: Alejandro Zambrana/Secom/TSE - Encontro “Direitos: Humanas – Voz (da mulher) pela Democrac...

Hoje, a Comunidade Santa Luzia atende 105 crianças, que recebem quatro refeições por dia. O local é mantido por meio de doações e atividades como bazar comunitário. Nos fins de semana, o local oferece alimentação à comunidade com a distribuição de cestas básicas e realização de almoços. “Tudo consiste em doação, eu não tenho renda nenhuma em dinheiro”, relata. “Enquanto tiver comida e tiver gente com fome, vai comer”, diz. 

Já a atleta paralímpica gaúcha Ana Paula Marques tinha 20 anos quando sofreu uma tentativa de assassinato cometida pelo ex-companheiro. Ele não aceitou o fim do relacionamento. Os dois tiros disparados por ele pelas costas a deixaram paraplégica. Ao iniciar o tratamento, descobriu que aquela era a realidade de inúmeras mulheres. “De 20 meninas, dez tinham sofrido feminicídio”, relata. “Ali eu comecei a reabilitação e percebi que eu podia mais. Eu tinha um filho para criar”, lembra. 

Foto: Alejandro Zambrana/Secom/TSE - Encontro “Direitos: Humanas – Voz (da mulher) pela Democrac...

Na rede Sarah, passou a praticar vela. Hoje acumula três títulos mundiais na categoria e, desde 2016, se dedica ao halterofilismo, esporte por meio do qual, em 2024, representou o Brasil nas Paralimpíadas de Paris. “O esporte me mostrou que eu podia mais, que eu sou uma pessoa normal, que eu podia fazer tudo que outra mulher pode fazer”, disse. “A força venceu”, afirmou. 

Fé na Mulher 

No painel "Fé na Mulher", coordenado pela ouvidora-geral do TSE, desembargadora Iracema do Vale, Mãe Nilce de Iansã, Adelina Benedita Alves Santiago e Nayara Porto, com uma participação especial de Lydia Garcia, abriram suas vozes em defesa da vida e das manifestações ancestrais. O painel ocorreu no Auditório II do TSE.  

De acordo com a desembargadora Iracema do Vale, o Tribunal e a sociedade precisam estar juntos e defender as diversas manifestações de “fé, ser e fazer, na sua integralidade, porque a fé para mim é confiança, é a crença, porque elas são coisas diferentes. Então nós estamos todos juntos, nós somos um só povo, uma só nação”, ressaltou a coordenadora da mesa. 

Mãe Nilce de Iansã, do Ilê Omolu Oxum, é coordenadora nacional da Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde (Renafro). Como representante de religião de matriz africana, destacou a luta para vencer o preconceito religioso para, livremente, ter o direito de manifestar a sua fé.  

Foto: Alejandro Zambrana/Secom/TSE - Encontro “Direitos: Humanas – Voz (da mulher) pela Democrac...

“Nasci dentro do terreiro e tem uma doença que eu conheço bem: a dor é o racismo religioso. Esse é o nosso desafio, essa é a nossa grande demanda. O racismo religioso está entrando no nosso espelho sagrado, está destruindo nossas casas, nossas peças, nossa tradição. Eu já saúdo aqui a minha ancestralidade, porque eu sei que as minhas mais velhas lutaram muito para ocupar o espaço que ocuparam, mas, certamente, deixaram as portas abertas para que eu adentrasse e tivesse essa oportunidade para falar aqui sobre as nossas demandas”, disse Mãe Nilce Iansã, que defendeu a criação de uma política de proteção e reparação pelo reconhecimento dos saberes e fazeres ancestrais.  

Adelina Benedita Alves Santiago é professora aposentada da rede pública do Distrito Federal (DF) e membro do Coletivo Mulheres Negras Baobá, filha de mãe salgadeira e pai pedreiro, que era um educador social e deixou como legado essa transformação nos filhos. “Um dia ele chegou e presenteou todos os filhos com um quadro de cimento na parede e ali eu dava aula para os meus irmãos menores. Nesse espaço de educação, nós crescemos”, contou Adelina Santiago.  

Foto: Alejandro Zambrana/Secom/TSE - Encontro “Direitos: Humanas – Voz (da mulher) pela Democrac...

A professora aposentada relatou que, no Coletivo de Mulheres Negras Baobá, são compartilhadas experiências e informações, como direito e participação pelo voto, direito às informações, Lei do Feminicídio, Lei Maria da Penha, direito de ser bem informada para não cair em fake news, direito de ser alfabetizada, direito à saúde, direito à comida no prato. “A fé e a força de mulheres se fazem e se movem na coletividade, em potência para coleta de resultados com muitos colaboradores da sociedade civil e instituições. [Há] uma vontade de fazer acontecer”, completou a educadora. 

Lydia Garcia, também do Coletivo de Mulheres Negras Baobá, contribuiu com uma fala sobre a importância de unir vozes para a luta contínua, que é de todos. “Hoje, piso aqui neste espaço democrático que é nosso, de homens, de mulheres, de crianças brasileiras, de qualquer gênero e raça”, disse. 

Ao finalizar o painel, a presidente da Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão (Avabrum), em Brumadinho (MG), Nayara Porto, partilhou a dor pela perda de 270 trabalhadores que trabalhavam na região.   

Foto: Alejandro Zambrana/Secom/TSE - Encontro “Direitos: Humanas – Voz (da mulher) pela Democrac...

“Na data dos direitos humanos, digo que são vários direitos humanos que foram violados. O principal deles é o direito à vida, vida essa que não tem reparação. Dinheiro nenhum traz alguma vida de volta, paga uma vida”, desabafou.   

Perfume de Mulher 

"Não temos clube de charutos, mas temos conversas de perfumes", disse a ministra Cármen Lúcia na abertura do evento “Direitos: Humanas”, ao informar sobre as mesas do encontro pela manhã, declaração que se conecta com o painel "Perfume de mulher", que aconteceu no Auditório III. O encontro foi conduzido pela juíza Andrea Medeiros. A magistrada informou que, embora a maioria da população do país seja formada por mulheres, 95% do Congresso Nacional é composto de políticos homens e que essa diferença precisa ser corrigida. "Ao pensar neste evento, a ministra Cármen Lúcia trouxe mulheres para mulheres ouvirem. Mulheres que sofreram preconceitos, problemas familiares, mas que não desistiram", explicou.  

A CEO da RM Cia 360, que atua como conselheira de grandes empresas nacionais e internacionais, Rachel Maia, falou dos preconceitos sofridos e das lutas diárias por ser uma pessoa negra de tanto destaque no mundo empresarial.

Foto: Alejandro Zambrana/Secom/TSE - Encontro “Direitos: Humanas – Voz (da mulher) pela Democrac...

"A pluralidade é para além de levar a transformação pela interseccionalidade de estarmos em todos os lugares. É para trazer mentes plurais e, assim, entender como eu posso fazer a diferença para a inovação, a inteligência artificial, a transição energética, a descarbonização. Eu preciso dos meus e das minhas também falando sobre essas temáticas", afirmou.  

Em seguida, a chef de cozinha cearense Mariana Figlioulo falou sobre os desafios enfrentados e as vitórias conquistadas em sua trajetória como empresária e culinarista, como era chamada.  

Foto: Alejandro Zambrana/Secom/TSE - Encontro “Direitos: Humanas – Voz (da mulher) pela Democrac...

A liderança indígena e presidente da Associação Indígena Pariri, Alessandra Korap, contou suas experiências ao enfrentar o patriarcado e a luta pela valorização da mulher entre os indígenas e na sociedade.  

Já a jornalista e especialista na defesa de rios e matas Silvana Gontijo relatou a experiência de implementar o programa de preservação da natureza "Esse rio é meu" em escolas do Rio de Janeiro.    

AN, AM, DV/EM, DB 

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