Voto em papel e fraudes: escândalo na eleição de 1982 para governador do RJ marcou o Brasil
Alegação de fraude ocorreu em meio ao processo de redemocratização do país
O administrador aposentado Ronaldo Lanzelotti, de 71 anos, lembra com riqueza de detalhes das eleições para governador no estado do Rio de Janeiro, em 1982. Ele observou de perto, inclusive ao contar votos como escrutinador. Naquele ano, ainda sob o regime da ditadura militar, os brasileiros foram às urnas para escolher governador, senador, deputado federal, deputado estadual, prefeito e vereador.
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Com o voto em cédula e uma disputa acirrada entre os dois principais candidatos para governar o Rio de Janeiro, houve alegações de fraude na contagem dos votos e o escândalo tomou conta do noticiário do país por dias seguidos. As acusações ocorreram entre as campanhas de Leonel Brizola, do PDT, e Moreira Franco, candidato do PDS (antigo Arena), que recebia apoio dos militares, que ainda comandavam o país.
“Naquela eleição, tivemos três pleitos muito destacados com o Brizola, no Rio de Janeiro, o Arraes, em Pernambuco, e o Pedro Simon, no Rio Grande do Sul. O Brasil passava pela chamada reabertura, com a chegada dos exilados políticos em 1979. Esses nomes eram tidos como de esquerda, pessoas que incomodavam os militares”, lembra Lanzellotti.
Transferência de votos
De acordo com o relato do aposentado, “uma das situações mais absurdas que ocorreram naquelas eleições foi quando colocaram mulheres com unhas maiores para acompanhar a contagem dos votos. Elas escondiam pontas de canetas sob as unhas, em votos brancos colocavam o número de um dos candidatos e, nos votos do adversário, escreviam qualquer coisa para anular”.
Devido à importância daquela eleição e ao clima acirrado na campanha, havia muitas contagens paralelas, inclusive de veículos de imprensa que divulgavam, a todo momento, diferentes resultados. Na intenção de eliminar o clima de desconfiança, o Tribunal Regional Eleitoral fluminense contratou a empresa Proconsult, para realizar, de maneira informatizada, a compilação dos dados obtidos à mão pelas pessoas envolvidas na contagem dos votos. Foi então que começaram a levantar suspeitas também sobre a empresa contratada. A acusação era de que a empresa teria agido para dar a vitória a Moreira Franco. Diante das suspeitas, o PDT de Brizola contratou outra empresa para realizar a contagem paralela dos votos, que divergia muito do resultado oficial.
Após diversas recontagens, a Justiça Eleitoral e também o terceiro colocado na eleição, Miro Teixeira, reconheceram a vitória de Brizola, que foi declarado vitorioso no pleito de 1982.
Evolução e segurança
Ao citar as Eleições de 1982, Ronaldo Lanzellotti é enfático ao tratar da urna eletrônica: “Eu, como observador eleitoral que sou desde aquela data, peço a todos que confiem no sistema vigente. Perto do que tivemos no passado, é uma evolução extraordinária em termos de representatividade e valor do voto. Nunca foi constatado nada de irregular até hoje nas urnas eletrônicas. É preciso confiar e não dar ouvidos a quem deseja invalidar o voto eletrônico sem qualquer tipo de argumento”, sentencia.
Ele reconhece que houve muita evolução no voto eletrônico desde as primeiras eleições com o sistema, em 1996. “Hoje há um nível incrível de segurança. Devemos nos orgulhar do sistema que possuímos. É importante ouvir do povo, por meio do voto, todos os pleitos e direções que tomaremos enquanto nação. Além disso, as urnas eletrônicas, hoje, evitam que tenhamos casos jocosos que marcaram nossa história política, como as eleições – como forma de protesto – do macaco Tião, no Rio de Janeiro, e da rinoceronte Cacareco, em São Paulo”.
Esse texto faz parte da série “Voto em papel e fraudes”, que relata depoimentos de cidadãos e cidadãs que participaram de perto das eleições antes do sistema eletrônico de votação. A urna eletrônica foi um avanço tecnológico que eliminou a intervenção humana e tornou o processo eleitoral brasileiro um dos mais confiáveis do mundo.
JM/CM, DM
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