Presidente do TSE instaura procedimento para averiguar uso de notícias falsas na internet (atualizada às 18h de 29/03)
Iniciativa tem por base dados que apontam uso de robôs e sites especializados na divulgação de fake news com conteúdo eleitoreiro
O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luiz Fux, decidiu, na noite desta terça-feira (27), abrir procedimento junto ao Ministério Público Eleitoral para que seja verificada a possível ocorrência de irregularidades apontadas em estudos e análises realizados pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e pelo Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas para o Acesso à Informação da Universidade de São Paulo (USP) sobre proliferação de notícias falsas na internet, as chamadas fake news (expressão em inglês). Essa é a primeira ação do Tribunal no âmbito das atividades do Conselho Consultivo sobre Internet e Eleições, criado em dezembro de 2017.
"Vamos instaurar um procedimento que será remetido ao Ministério Público, que vai solicitar o auxílio da Polícia Federal para nós verificarmos que tipo de material essas organizações têm à sua disposição”, disse o presidente aos jornalistas ao final da sessão plenária de hoje.
Ao tomar ciência do tema, o TSE resolveu oficiar o Ministério Público Eleitoral com vistas a proceder a oitivas de entidades prestigiadas junto à sociedade e que estão desenvolvendo estudos a respeito da temática das fake news.
A intenção é que o Ministério Público Eleitoral instaure Procedimento Preparatório Eleitoral (PPE) com vistas a reunir informações junto a essas instituições acadêmicas e empresas líderes no segmento de marketing eleitoral citadas nos estudos, a fim de apurar a factibilidade da prática de abusos tendentes a distorcer a liberdade de informação e influir artificialmente na tomada de decisão do eleitorado brasileiro nas próximas eleições.
Estudo da FGV apontou o uso de robôs nas eleições de 2014 por três candidatos à Presidência da República. A análise revela indícios de presença de robôs de origem russa na disseminação de material de campanha.
Em outra frente, o Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas para o Acesso à Informação da USP, por meio de seu projeto "Monitor do debate político no meio digital", que busca mapear, mensurar e analisar o ecossistema de debate político no meio digital, tem logrado resultados que podem auxiliar a Justiça Eleitoral quanto ao caminho percorrido pelas notícias veiculadas na imprensa oficial e "o número de compartilhamentos e comentários de cada matéria, por veículo e por categoria agregada", conforme descrevem em seu perfil no Facebook.
O presidente do TSE também decidiu convidar a representação brasileira da empresa Cambridge Analytica para prestar esclarecimentos ao Conselho sobre sua atuação no Brasil. Recentemente, a empresa viu-se envolvida em denúncia por fazer uso de dados privados de 50 milhões de usuários do Facebook, sem autorização, para fins políticos durante a campanha presidencial de Donald Trump, em 2016.
O uso de notícias falsas gera preocupação para as próximas eleições e o TSE tem mapeado os principais problemas, com ajuda dos membros do Conselho Consultivo sobre Internet e Eleições, formado por representantes da Justiça Eleitoral, Governo Federal, Exército Brasileiro, Polícia Federal, Ministério Público Eleitoral, Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), Comitê Gestor da Internet, além de acadêmicos e representantes da sociedade civil organizada.
Acesse o link do estudo "Robos, Redes Sociais e Política no Brasil", da FGV: https://goo.gl/eQhVE5
Atualização
A versão original deste texto, publicada às 23h45 do dia 27/03, fazia menção a um estudo atribuído à Universidade de São Paulo (USP) que teve sua origem contestada. O texto foi atualizado na tarde do dia 29/03, após a exclusão dessa referência e inclusão do nome correto do Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas para o Acesso à Informação da USP, para onde será destinado o ofício do MPE, assim que aberto o procedimento.